segunda-feira, 8 de março de 2021

A CEIA CRISTÃ

Sobre a 'Ceia do Senhor' na igreja de Jesus:

1) É um erro utilizar textos, passagens ou versículos do Velho testamento para consolidar doutrinas para a igreja atual. O certo é utilizar apenas o Novo Testamento (A nova aliança). Antigamente várias culturas (sumérios, egípsios, hebreus, etc) achavam que o sangue era a fonte mais vital do ser humano, como está em Levítico 19:26. A percepção que esses povos antigos tinham da vida era muito limitada e sua ciência praticamente não existia. Esse texto (levitico 19:26) só pode ser interpretado pela igraja atual como sendo uma alusão profética da "vida que Cristo fez jorrar sobre a igreja DELE através de Sua morte vicária". Se fôssemos interpretar Levítico 19:26 literalmente, todos estaríamos proibidos de, inclusive, comer frango ao molho pardo. Até picanha mal passada seria uma blasfêmia !!!
2) A ceia católica é chamada 'Eucaristia'e, segundo esta doutrina católica, tem o poder místico de promover uma transformação no homem, por isso é denominado como um 'ato sacramental', pois no momento em que é celebrada, segundo eles, o vinho passa a ter o poder do sangue de Cristo e, da mesma forma, o pão também passa a ter o poder do corpo de Cristo. Nós crentes sabemos que isso é um devaneio surreal dos primeiros bispos romanos com o intuito de manter o povo preso e amedrontado pela ignorância. A igreja protestante séria interpreta a celebração da Ceia como APENAS um momento simbólico e, como o apóstolo Paulo frisou, momento este para se lembrar e refletir sobre a vida, morte e ressurreição de Jesus até que ELE venha. Não existe misticismo e nem "transubstanciação"; não existe nenhum tipo de "poder" sendo repassado ao homem através dos elementos (pão e suco de uva), pois como é uma celebração feita por homens e mulheres redimidos pelo SANGUE DE JESUS, nenhuma "transmissão" de poder de qualquer tipo se justifica mais, pois a morte vicária de Jesus já foi suficiente. Quando temos fé em Cristo, não precisamos ter "fé no pão" e nem "fé no suco de uva". Basta olhar pra Cristo e ser feliz, pois ELE é o Autor e o Consumador da nossa fé.
#IBUC @IBUC #GilsonMangarat

quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Como é "chato" ser cristão reformado !

As vezes é tão chato ser cristão reformado.. Você não "levanta a mão" e não grita "glórias a Deus" veementemente e nem se sente motivado por "atos proféticos", pois a sua fé lhe garante que isso tudo é (muito) secundário, principalmente quando você tem a certeza de que a Graça de Deus já o alcançou por completo... 

Ainda bem que Deus não é religioso (como são os seus filhos) e tem o foco maior no nosso coração (em nossa essência) e não fica nos 'observando', como se quisesse 'testar' o nosso cristianismo baseado nos 'gestos' que fazemos ou não durante os cultos em nossas igrejas. 

Sabemos que muitos irmãos 'necessitam' desse tipo de relacionamento com Deus, bem 'gestual', por mais frágil e raso que possa ser - mas afinal, somos filhos de um Pai tão amoroso que "foi preparar lugar" para todos nós, sem exceção. 

Uma coisa me conforta: Alguns querem VER a glória de Deus; outros querem PARTICIPAR da glória de Deus. Mas existem outros que almejam SER a glória de Deus nesta Terra - e este nível de consciência não se consegue em cultos pura e simplesmente, mas sim na leitura bíblica, na meditação da Palavra e na transformação de todo esse aprendizado em ATITUDE diária e planejamento de vida.

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Hicsos e Hebreus no Egito

Durante o Médio Império Egípcio (2000 a 1580 a.C.), o Egito vivia uma disputa política entre o Faraó e a elite religiosa. Por volta do século XVIII a.C. a pressão contra a autoridade do Faraó estabeleceu um grave desacordo, sendo que muitos membros da nobreza, em desafio, permitiram que povos estrangeiros adentrassem o território egípcio, povos que não eram bem vindos, chamados de "vagabundos das areias".




Esses povos eram instalados na região do Delta do Nilo, norte do Egito, para que não tivessem acesso nem contato com a parte rica e civilizada do país, evitando a miscigenação com a população natural. Entre esses povos semitas estariam os filhos de Jacó, os Hebreus e também uma civilização de origem asiática, os Hicsos. Segundo alguns pesquisadores essa chegada se deu devido a uma enorme seca em seu lugar de origem. Podemos então concluir que esses povos se deslocaram até o nordeste da África para fugir da seca, da fome e usufruir das terras e dos mananciais disponíveis.

Enquanto o Egito era tomado por disputas políticas, os Hicsos, que eram adoradores da divindade "Ba'al" desenvolveram a sua economia e sociedade, além de formar um exército muito bem armado, com armas resistentes e cavalos de guerra. Dessa forma, quando iniciaram o processo de dominação contra os egípcios não tiveram dificuldade de vencer as instáveis forças que controlavam a região do Delta do Nilo. 

Após se firmarem politicamente no Egito, os Hicsos decidiram fixar a capital do Baixo Egito na cidade de Avaris, enquanto a dinastia de Faraó mudou sua capital para Tebas, no Alto Egito, para garantir assim o controle da região sul. Essa divisão política permaneceu por quase um século estável, graças ao bom convívio entre os dois governos no Vale do Rio Nilo, mas sofreu um forte abalo por conta de uma rixa aparentemente banal, segundo documentos desse período. Os relatos dizem que muitas dessas brigas aconteciam porque Os Hicsos tentavam legitimar e estender seus poderes, adotando várias das tradições e costumes desenvolvidos pelos egípcios, por outro lado os egípcios não se conformavam com a perda de uma rica e significativa parcela de seus domínios. 
O termo grego Hicsos deriva do egípcio Hik-khoswet, que significa "governantes de países estrangeiros". Por volta de 1580 a.C, no governo do faraó Ahmose I, os conflitos militares contra os hicsos se intensificaram, com o intuito de recuperar a unidade política do antigo Egito, tiveram que superar duas frentes de batalha: uma ao norte comandada pelos hicsos e outra ao sul sob liderança dos núbios, povo que cooperou militarmente em favor dos hicsos. Após a vitória o Novo Império (1580 a 525 a.C) inaugurou uma nova etapa na supremacia egípcia.

Os Hebreus no Egito 

A bíblia nos dá informações escassas sobre a permanência dos hebreus no Egito. Jacó e seus filhos estabeleceram-se na terra de Gessém (no texto hebraico Goshen, no texto dos LXX, Gessém), situada na parte oriental do Delta, região fértil é apta para o pastoreio. Em determinado momento, com o crescimento da população, Gessém tornou se pequena, e os hebreus tiveram que expandir. Preferiram em vez de se estabelecerem em meios hostis egípcios retornar para Canaã, terra que estava ligada a esse por tradições religiosas. Uma vez já tinham voltado para lá, quando José saiu do Egito rumo a Canaã para sepultar Jacó (Gn 5O,7-14). Certamente, depois daquela ocasião, as relações não foram cortadas com a terra das promessas.
O período dos Hicsos ainda é obscuro na história do Egito. É consensual que eles foram um dos povos asiáticos que ocuparam o Delta do Nilo em busca de alimentos naquela época, parecem feito uma aliança cultural e tecnológica com os egípcios. 

Historiadores modernos aceitam a ideia de uma conquista do Egito pelos hicsos. Os vestígios arqueológicos não confirmam nem negam esta conquista militar do Delta do Nilo, e as fontes egípcias contem poucas informações do período que abrange da 14.ª Dinastia a 17.ª Dinastia, por esse motivo acreditam que houve uma desintegração de poder no Egito nesta época.

Outras fontes históricas dão conta de que que os Hicsos, em determinado momento ascenderam ao poder no Egito, tirando dos Hebreus o status de 'povo amigo' e relegando-os à escravidão, pois como pavo imigrante no Egito (assim como os Hicsos) tornaram-se eventualmente seus rivais. Com a ascensão dos Hicsos ao trono Egípcio os Hebreus se tornaram escravos, até culminar com sua libertação sob a liderança de Moisés.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O que é uma igreja batista ?

A igreja batista nasceu a partir dos movimentos de reforma eclesiástica que agitaram o século 16. Mais especificamente, os batistas descendem da igreja inglesa que, com Henrique VIII, rompeu com o catolicismo romano, dando início à denominada Igreja Anglicana.

Para algumas pessoas que pertenciam à Igreja Anglicana, a reforma de Henrique VIII devia ser mais ampla, indo além de questões institucionais e atingindo áreas de fé e doutrina. Esses grupos, por desejarem um retorno ao Novo Testamento em sua forma mais pura, foram chamados de puritanos.

Entre os puritanos havia os separatistas que, além de se opor a certos aspectos teológicos da Igreja Anglicana, também não aceitavam o controle estatal da igreja, crendo que esta devia ser independente. Esses puritanos foram chamados de separatistas.


Evidentemente, a coroa inglesa não via com bons olhos os movimentos puritanos separatistas e os considerava ilegais. Por isso, muitos desses grupos fugiram da Inglaterra e se fixaram em vários países. Entre eles, em 1609, uma congregação liderada por John Smith (c. 1570-1612), refugiou-se em Amsterdã, na Holanda. Ali, John Smith teve contatos com os anabatistas e com os menonitas, sendo influenciado por esses movimentos no tocante a um retorno completo às Sagradas Escrituras, ao batismo somente de crentes e à rejeição do batismo infantil.


Em 1612, Thomas Helwys (c. 1550-1616) e outros membros da igreja fundada por Smith voltaram à Inglaterra e fundaram, em Londres, a primeira igreja batista. É interessante notar que essa igreja, a princípio, praticava o batismo por efusão, mas já detinha os outros traços distintivos dos batistas - a aceitação da Bíblia como autoridade final em matéria de fé e prática, a salvação pela graça mediante a fé somente, a separação entre a igreja e o Estado e o dever do governo de garantir a liberdade de consciência e de culto.

Os batistas de convicção calvinista, também chamados de batistas particulares, originaram-se em 1633, a partir de um cisma na igreja liderada por Henry Jacob, em Londres. Esse grupo, além de enfatizar as doutrinas reformadas, insistia no batismo dos crentes por imersão e tornou-se o segmento mais influente dentro do movimento batista inglês.

Espalhando-se para as mais diversas regiões do globo, os batistas muito cedo chegaram aos Estados Unidos. De lá veio para o Brasil o casal de missionários William e Anne Bagby. Por esse tempo, já havia batistas americanos em Santa Bárbara e Americana (SP), mas suas igrejas eram voltadas apenas para a colônia estrangeira. O casal Bagby, porém, em 1889, fundou, em Salvador, a primeira igreja batista brasileira. A partir daí os batistas se espalharam por todo o País e, em 1907, foi organizada a Convenção Batista Brasileira.

DEZ TRAÇOS DISTINTIVOS DOS BATISTAS 

1. Adoção da Bíblia como única regra de fé e prática (2Tm 3.16).

2. Ênfase na doutrina da salvação pela fé somente (Ef 2.8-10).

3. Destaque para o ensino do sacerdócio de todos os crentes (1Pe 2.9)

4. Separação entre Igreja e Estado com ênfase na independência da igreja (Mt 22.21).

5. Autonomia de cada igreja local que adota a forma de governo congregacional (Mt 18.17; At 6.1-6).

6. Cooperação entre as igrejas para a expansão do Reino de Deus (1Co 16.1-4).

7. Prática do batismo por imersão ministrado somente aos crentes (At 8.36-39).

8. Rejeição do batismo infantil (Mt 28.19).

9. Consideração do batismo e da Ceia do Senhor como símbolos de verdades espirituais e não como sacramentos (Rm 6.4; 1Co 11.24-25).

10. Rejeição de doutrinas pentecostais especialmente no tocante ao batismo do Espírito Santo acompanhado pelo dom de línguas (1Co 12.13,30).  

RESSALVAS 

1. Os batistas não são os seguidores de João Batista. Muitos identificam os batistas com os seguidores João Batista, mas esse entendimento é fruto apenas da intuição popular que percebe a igualdade dos nomes e automaticamente passa a crer que há qualquer ligação entre ambos. Esse modo de pensar, porém não tem qualquer amparo, mesmo porque João Batista e seus discípulos nunca fundaram qualquer igreja ou movimento religioso. O papel de João e seus discípulos se limitou a preparar o caminho para a vinda do Messias que é Jesus (Mt 3.1-3). Depois disso João saiu de cena (Jo 3.30). 

2. Os batistas não adotam a Teologia da Prosperidade. O ensino de que os crentes de fé terão prosperidade material e livramento de doenças, ensino este proposto pela chamada Teologia da Prosperidade não é ensinado nas igrejas batistas genuínas por não ter amparo bíblico. Na Palavra de Deus aprendemos que dificuldades físicas e financeiras advêm tanto a crentes como a incrédulos (Mt 19.23; Lc 16.22-23; Gl 4.13; Fl 2.25-27; 2Tm 4.20; Tg 2.5). 

3. Os batistas não têm comunhão com seitas paraprotestantes. Seitas paraprotestantes são aquelas cujos fundadores estiveram originalmente ligados de alguma forma a igrejas protestantes, mas romperam com elas por professarem doutrinas estranhas ao cristianismo histórico, fundando em seguida o seu próprio movimento. Todos esses movimentos, à luz da Bíblia, não podem ser considerados cristãos. Daí ser impossível a comunhão entre eles e as igrejas batistas que preservam seus princípios fundamentais (2Jo 10). 

4. Os batistas não praticam rituais comuns em outras igrejas ditas evangélicas. Rituais de quebra de maldição, supostas orações de poder, cultos de libertação espiritual, unção de objetos e coisas do gênero não são práticas adotadas pelos batistas ou por qualquer igreja bíblica. Na verdade, essas superstições servem apenas para desfigurar o nome de cristão e desviar o coração das pessoas da verdadeira mensagem do evangelho, fazendo-as crer em fábulas (Mt 7.21-23; 2Tm 4.3-4; 2Pe 2.1-3).

terça-feira, 24 de abril de 2018

O Pentecostalismo e seus danos à Igreja cristã

Os Três Perigos

Ao longo de sua história, a igreja cristã tem enfrentado três graves perigos: o paganismo, o papismo e o pentecostalismo.

O paganismo ameaçou a igreja logo nos primeiros anos de sua existência, especialmente por meio de um misto de religiões, filosofias e fábulas que mais tarde ficou conhecido como gnosticismo. Esse modelo exercia forte atração sobre os cristãos menos preparados porque, além de oferecer experiências místicas, como visões e coisas do tipo (Cl 2.18), também impunha aos seus seguidores normas de conduta que pareciam piedosas — regrinhas como "não pode isso", "não pode aquilo" (Cl 2.20-23). O maior atrativo do gnosticismo, porém, estava na alegação de que seus adeptos formavam uma elite espiritual detentora de um grau de espiritualidade e conhecimento (gnosis) que outras pessoas eram incapazes de possuir

.

O papismo, por sua vez, desenvolveu-se em decorrência de processos muito mais longos e complexos, iniciados já no século 2, e que culminaram no surgimento de uma espécie de príncipe eclesiástico com autoridade universal, supostamente dotado de infinitos poderes temporais e espirituais — uma espécie de deus, reconhecido, aliás, como infalível!

Por causa do papismo, a igreja medieval ficou muitas vezes nas mãos de homens inescrupulosos, imorais e corruptos que, em nome de Cristo e em benefício próprio, cometeram atrocidades como as guerras das Cruzadas, os crimes da Inquisição e a exploração impiedosa do povo por meio da venda de relíquias e de indulgências. O caos e a vergonha a que o papismo lançou a igreja deram ensejo à Reforma Protestante do século 16.

O terceiro perigo, o pentecostalismo, é de todos o mais recente e também o mais danoso, posto que abriga elementos dos dois primeiros e, conforme será demonstrado, trouxe prejuízos para o cristianismo que nem mesmo os piores inimigos da fé foram capazes de causar nesses 2 mil anos de história eclesiástica.

O surgimento do movimento pentecostal geralmente é datado de 1906, ano em que William Joseph Seymour, um pregador afro-americano, iniciou reuniões num barracão na Rua Azuza, número 312, em Los Angeles, EUA. Nessas reuniões, a ênfase era a busca do batismo com o Espírito Santo, o que Seymour cria ser uma experiência mística pós-conversão, acompanhada pelo falar em línguas.

Ora, a Bíblia ensina que o batismo do Espírito Santo é dado a todos os crentes, sem que eles precisem se esforçar para obtê-lo (1Co 12.13; Gl 3.2). Também ensina que isso ocorre no momento da conversão (Ef 1.13), sem nenhuma necessidade de ser evidenciado pelo dom de línguas, já que, na Igreja Primitiva, esse dom era dado somente a alguns (1Co 12.30).

Contudo, os seguidores de Seymour criam que o batismo do Espírito Santo era uma espécie de "segunda bênção" (a primeira bênção seria a conversão) dada por Deus somente a quem a buscasse com orações, jejuns, clamores, lágrimas e vigílias. Por isso, testemunhas oculares relataram que, na Rua Azuza, as pessoas passavam dias e noites gritando, chorando, gemendo, uivando, pulando, girando e se contorcendo, enquanto clamavam pela "bênção". Já os que eram "batizados" balbuciavam o que criam ser línguas estranhas e, em êxtase, caíam no chão onde ficavam rolando ou se sacudindo, numa manifestação frenética de loucura total. Outros, ainda, desmaiavam e ficavam deitados por horas a fio, inertes como se estivessem mortos.

Tudo isso, pensavam, era necessário e valia a pena, pois o batismo do Espírito Santo, uma vez recebido, elevaria o crente a um novo e mais rico patamar espiritual, tornando-o participante de uma elite de homens santos e fazendo-o desfrutar de uma vida repleta de experiências poderosas e arrebatadoras com Deus.

Foi dito aqui que o primeiro grande perigo que ameaçou a igreja de Cristo foi o paganismo manifesto em doutrinas gnósticas. Pois bem... O pentecostalismo demonstrou ser um dos maiores danos que já sobrevieram à igreja porque, com sua ênfase numa doutrina jamais ensinada nas Escrituras, trouxe de volta para o cristianismo precisamente aquelas velhas noções pagãs, apegando-se ao êxtase, ao frenesi espiritual e, especialmente, ao principal conceito gnóstico da existência de uma elite espiritual que se situa acima dos crentes comuns.

Então, como ocorreu com o gnosticismo nos séculos 1 e 2, a possibilidade de provar emoções novas e de fazer parte de uma elite espiritual fez com que o pentecostalismo atraísse uma imensa massa de pessoas ignorantes, ávidas por experiências místicas e sedentas por conquistar o reconhecimento e a admiração dos seus correligionários.

Conforme dito anteriormente, a segunda maior ameaça sofrida pela igreja ao longo dos séculos foi o papismo. Ora, o pentecostalismo também não deixou de fora os principais elementos desse mal. Com efeito, além de trazer novamente para a igreja de Cristo o velho paganismo combatido pelos pais apostólicos do século 2, o movimento pentecostal trouxe também para a igreja evangélica o velho papismo combatido pelos reformadores do século 16. A diferença é que o papismo pentecostal é um papismo piorado.
De fato, se no romanismo foi acolhida a figura de um papa apenas, no movimento pentecostal ocorreu a diabólica proliferação de um exército de pequenos papas locais, todos reivindicando autoridade divina e infalibilidade absoluta sob os títulos de bispo, apóstolo, profeta ou patriarca.

Com incrível ousadia, todas essas figuras alegam que Deus lhes fala diretamente e, à semelhança dos pontífices medievais, não aceitam que suas opiniões ou condutas sejam questionadas por ninguém e em nenhum grau. Também à semelhança dos papas renascentistas, esses facínoras exploram a boa-fé do povo e juntam tesouros para si, vendendo quinquilharias que dizem ser santas e dotadas de poder. Na verdade, isso acontece hoje numa escala tão grande que é fácil concluir que os papas medievais, em termos de engano e estelionato, teriam muito que aprender com os pequenos papas da atualidade que reinam soberanos nas igrejas pentecostais.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Onde está escrito na bíblia que Lodebar era uma terra de tristeza e dor?

A história de Mefibosete começa no segundo livro de Samuel capítulo 9 em diante. O texto diz que ele habitava em Lodebar, mas afinal de contas onde é que está escrito que esta cidade era uma "cidade feia", ou um "lugar de tristeza e dor" como dizem muitos pregadores e cantores? Qual o capitulo e o versículo que trás esta informação?

Precisamos conferir nas escrituras tudo que é pregado nos púlpitos de nossas igrejas. Quem tem essa prática (de conferir nas escrituras) não se surpreende mais com tanta bobagem que muitos pregadores propagam como se fossem textos bíblicos e, por esta razão, os tornam "irrefutáveis" e "inquestionáveis".
O próprio Deus nos adverte para que não ultrapassemos o que está escrito, com muitas ressalvas para não darmos créditos a estórias fantasiosas, geralmente originadas na mente de pessoas que não estudam a Bíblia, apenas repetem o que ouviram dizer.
Temos razão em afirmar, no caso de Mefibosete, que nada mais há no texto bíblico além do necessário para mostrar o quanto foi Davi foi misericordioso com a casa de Saul, devido à amizade que tinha com Jônatas, seu filho. Apesar de Saul ter se tornado abominável para Deus e, também, por haver sistematicamente perseguido Davi para mata-lo, mesmo assim o “jovem rei segundo o coração de Deus” honrou a promessa que havia feito a Jônatas de “fazer bem a casa de seu pai”. Sabemos que a prática comum da época era o novo rei eliminar toda a descendência do antigo rei deposto, para evitar que revoltosos e insurgentes se levantassem dentre os seus descendentes.  Seguindo os preceitos dessa prática comum, a parentela de Jônatas tratou de fugir, pois ainda não sabia que seria poupada. Na fuga ocorreu um acidente com Mefibosete (sua ama o deixou cair) que o transformou num aleijado.

Um tempo depois, conforme havia prometido a Jônatas, o rei Davi restitui a Mefibosete o direito de se sentar à mesa do rei. Os anos se passaram.  Logo a seguir, durante a revolta de Absalão, no texto de Samuel veremos que Mefibosete se mostrou ingrato, apesar do altruísmo de Davi para com ele, porque no episódio em que Davi é obrigado a fugir do reino por conta do golpe de seu filho Absalão, Mefibosete fica “em cima do muro” e põe a culpa no servo (Ziba) pelo fato de não ter seguido ao rei afastado, quando todos os verdadeiros amigos de Davi fogem com ele.
Quando Davi volta e é restituído ao trono Mefibosete fica sem graça (2º Samuel 19:25) e não sabe o que responder ao rei. Davi percebe nitidamente o caráter ingrato e traidor de Mefibosete, mas mesmo assim Davi ainda dá bens e condições ao servo Ziba, que era leal a Davi, para que este continue cuidando do coxo e ingrato Mefibosete.
Nada mais é dito na Bíblia sobre a cidade onde Mefibosete morava ou, qualquer fato relevante que diga respeito a sua história, além do que já está escrito. A bíblia é bastante direta e não perde tempo com narrativas paralelas que não dirijam o leitor para o tema central – que é Jesus. Toda narrativa bíblica converge em direção ao grande final: Jesus Cristo Salvador do mundo.

Qualquer história paralela que não contribui para isso é “fofoca gospel” que alguém ouviu, ou leu em algum “livro” e, sem pesquisar a verdade, saiu por aí repetindo. Existe até “musica gospel” sobre essa estória fictícia de “Lodebar”...  Até em livrarias pode-se encontrar livros fantasiosos contando relatos da adolescência de Mefibosete - Pasmem!! Do mesmo modo existem livros contando como foi a vida de Tomé, de Lazaro, de Judas, etc. Devemos ter em mente que fofoca é uma coisa que atrai muitas pessoas e, quando vira livro, dá  muito retorno financeiro para quem escreve. O importante é que saibamos a diferença entre “estória” e texto bíblico. Para ter o poder deste discernimento, basta você fazer uma coisa muito simples: Ler a Bíblia e parar de ser massa de manobra ignorante nas mãos de quem tem o poder da retórica.

Gilson Mangarat - Poeta, escritor, compositor e músico cristão.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

O primeiro culto protestante das Américas - A verdadeira história

Essa história meus livros dos tempos de escola não contaram; talvez por desinteresse, talvez por ignorância... Mas o episódio ficou registrado pela historiografia dos povos que interagiram com o desenvolvimento da história da nação brasileira. Pela importância documental, pela coragem de vir tão longe pregar o Evangelho, pelo testemunho de fé, por tudo que representa e pode representar para a fé protestante no Brasil, desejo, sinceramente, que este episódio nunca mais seja esquecido.

Como essa história começou
O primeiro Culto protestante das Américas foi celebrado, muito provavelmente, no Brasil. Justo no país que ficou historicamente tão marcado pela influência de uma colonização católica-romana-jesuita.
Em tempos remotos, poucas décadas após o controverso descobrimento destas terras conhecidas como Brasil, houve uma tentativa de se estabelecer uma pequena colônia francesa no Rio de Janeiro. Naquela época tanto os portugueses quanto os franceses constantemente visitavam a costa estabelecendo contato com os “selvagens” locais para negociar, principalmente, a extração do pau-brasil.

Esse projeto colonizador, também conhecido como a França Antártica, teve suas peculiaridades. O jovem aventureiro e vice-almirante francês Nicolas Durand de Villegaignon (1510 -1571), com o apoio do próprio rei da França Henrique II, aceitou o desafio de estabelecer uma colônia no Brasil chegando ao Rio de Janeiro em 1555. O nível moral e religioso da recém-estabelecida colônia era preocupante; Villegaignon decidiu “importar” franceses de boa índole para influenciar os que por aqui já haviam chegado.

Villegaignon escreve uma carta a um antigo conhecido, o reformador João Calvino, que envia 14 huguenotes (nome dado aos protestantes calvinistas na França) que chegam ao Brasil no dia 7 de março de 1557. No grupo destaca-se a presença de 2 pastores e a do o jovem Jean de Léry (na época com 22 anos) estudante de Teologia, que atuou como sapateiro na Colônia. Após o regresso dramático para a França Léry escreve a obra Histoire d’un voyage faict en la terre du Brésil publicado na Europa em 1578, que se tornou um livro de “viagens e aventuras de grande sucesso” no Velho Continente, rapidamente traduzido para o latim, alemão e holandês. No Brasil com o título Viagem à terra do Brasil, foi publicado em 1980 pela EdUSP. Esta é a principal obra que nos traz o relato dos protestantes (calvinistas) que perderam a vida em defesa da fé bíblica no Brasil Colonial. Nesta obra também estão registrados dois cantos tupis, que os historiadores consideram o documento escrito mais antigo da música ameríndia.

O primeiro culto protestante:

Apesar de o termo “missionário” ainda não estar em voga no vocabulário evangélico do século XVI, talvez este tenha sido o primeiro movimento missionário em direção ao Novo Mundo. Motivados pela promessa de “fundar um puro serviço a Deus” esses homens estavam dispostos a cruzar o Oceano, convictos de que sua finalidade era “anunciar o Evangelho na América”.

Acolhidos com receptivas palavras de Villegaignon, os calvinistas chegaram ao Brasil numa quarta-feira, dia 10 de março de 1557, e neste mesmo dia realizam um culto descrito por Léry como em conformidade com ritual das igrejas reformadas da França. Na ocasião cataram o Salmo 5, e o pastor Pedro Richier, integrante do recém-chegado grupo, realizou a pregação com base no Salmo 27 “Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida”. Não sabiam eles que haviam acabado de realizar “o primeiro culto protestante da história do Brasil e do Novo Mundo”.

Conforme nos informa Jean de Léry, o almirante Villegaignon não apenas consentiu que se realizassem orações públicas todas as noites após os trabalhos de edificação do Forte, mas também ordenou que os pastores pregassem duas vezes aos domingos, que os sacramentos fossem administrados de acordo com a pura Palavra de Deus, e que, se necessário fosse, se aplicasse a disciplina eclesiástica. Por isso, no dia 21 de março de 1557, pela primeira vez foi celebrada a Santa Ceia de Nosso Senhor Jesus Cristo (nos moldes da igreja protestante), em território brasileiro.

Passados alguns meses Villegaignon logo foi visto como um fingido, que inicialmente demonstrava piedade e disposição para acolher com ternura paternal os calvinistas, mas logo submeteu os visitantes a um cotidiano de trabalhos forçados e condições de difícil sobrevivência. E, repentinamente, todo o fervor pela fé reformada se converteu em perseguição religiosa com radicais discordâncias, principalmente, acerca do sacramento da Santa Ceia; o almirante passou a, enfaticamente, advogar em favor dos dogmas do catolicismo romano, exigindo uma retratação dos calvinistas.

A Confissão de Fé de Guanabara

O documento “A Confissão de Fé de Guanabara” foi escrito em Latim com tinta feita de pau-brasil e é composto de 17 artigos enfaticamente iniciados, em grande parte, com a expressão “Cremos...”. Tais artigos podem ser divididos nos seguintes temas: (1-4) Trindade e a pessoa de Cristo; (5-9) Ceia e Batismo; (10) o livre-arbítrio; (11, 12) a autoridade dos ministros para perdoar pecados e impor as mãos; (13-15) casamento, divórcio e castidade; (16, 17) intercessão dos santos e oração pelos mortos.[6]

Alguns pequenos detalhes nos chamam a atenção na elaboração deste documento: 1) Jean Du Bourdel, que foi o redator, apesar do conhecimento do latim, não possuía uma formação formal em teologia; era leigo. 2) O pouco tempo que tiveram para produzir o texto (aproximadamente 12 horas). 3) Pouco recursso disponível – uma bíblia –, e a situação totalmente adversa: a prisão, a pouca luminosidade e a pressão de saber que aquele documento representaria – talvez – a própria sentença de morte. 4) A familiaridade com os Pais da Igreja; são citados Agostinho, Tertuliano, Ambrósio e Cipriano. 5) A solidez teológica do documento que se harmoniza com as principais confissões da fé bíblico-reformada.

Em seus devaneios místicos o tolo almirante defendia que Cristo estava fisicamente presente na Ceia, além de considerar necessário adicionar água no vinho da Ceia e sal na água do batismo. Calvino e seus seguidores foram declarados hereges por discordar veementemente destas distorções anti bíblicas. 

Para tentar escapar da crescente perseguição os protestantes franceses fugiram do Forte e tomaram uma embarcação rumo a França. A superlotação do modesto navio quase provoca um naufrágio ainda na costa do Rio de Janeiro, e, temerosos, 5 huguenotes (Pierre Bourdon, Jean Du Bourdel, Matthieu Verneuil, André la Fon e Jacques Le Balleur) resolvem não seguir viagem. Encontrados por Villegaignon, são aprisionados para serem executados como hereges, mas antes lhes foi exigido declarar sua fé por escrito.

A ordem de ficarem em silêncio não foi plenamente obedecida, ao invés disso, Bourdel começou a cantar, uma paráfrase do salmo 100. Logo em seguida o almirante Villegaignon questionou Jean Du Bourdel se ainda permanecia firme em suas idéias, este, porém, parecia mais firme que nunca e exortava-os a que permanecêssemos firmes e inabaláveis e a que reconhecessem que no Senhor todo labor não seria em vão.
A uma ordem alguns grandes sacos foram colocados à disposição dos algozes, sacos estes que o próprio La Fon havia costurado. Bourdel foi, de cima para baixo, ensacado e amarrado à cintura, conduzido até a ponta do rochedo, e, com um forte empurrão, arremessado ao mar; caiu em água. O golpe do corpo na água foi possível de ser ouvido de cima do cume, onde estavam os outro que certamente teriam o mesmo destino.

Deste pequeno grupo que resolveu não seguir viagem três (Pierre Bourdon, Jean Du Bourdel e Matthieu Verneuil) foram executados sob as ordens do tirano almirante.