Ao ver uma rosa brancaO poeta disse: Que linda!Cantarei sua belezaComo ninguém nunca ainda!
Qual não é sua surpresaAo ver, à sua oraçãoA rosa branca ir ficandoRubra de indignação.
É que a rosa, além de branca(Diga-se isso a bem da rosa...)Era da espécie mais francaE da seiva mais raivosa.
- Que foi? - balbucia o poeta.E a rosa: - Calhorda que és!Pára de olhar para cima!Mira o que tens a teus pés!
E o poeta vê uma criançaSuja, esquálida, andrajosaComendo um torrão da terraQue dera existência à rosa.
- São milhões! - a rosa berraMilhões a morrer de fomeE tu, na tua vaidadeQuerendo usar do meu nome!...
E num acesso de iraArranca as pétalas, lança-asFora, como a dar comidaA todas essas crianças.
O poeta baixa a cabeça.É aqui que a rosa respira...Geme o vento. Morre a rosa.
E um passarinho que ouviraQuietinho toda a disputa,Tira do galho uma retaE ainda faz um cocozinhoNa cabeça do poeta.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
O poeta e a rosa (Vinícius de Moraes)
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