Nós não precisamos ser nenhum musicista, mas devemos ser mais exigente com as musicas que ouvimos. Musica de qualidade nada tem haver se ela é religiosa ou secular. Também nada tem haver com seu estilo. Musica de qualidade tem haver com a combinação dos sons se estes são agradáveis aos ouvidos. Tem a haver com o espírito ilustrado de quem a compôs ou canta, atribuindo qualidades pessoais a música e a canção.
Hoje a música religiosa parece mais um jingle de comercial de refrigerante. Estão vendendo Jesus como se fosse um produto da "polishop". Cantores e grupos evangélicos com musiquetas melosas e dançarinas saltitantes ditam a moda e fazem tietes por toda a cristandade. É uma verdadeira penúria cultural!
Ouvi dizer, não sei se é verdade, mas certa vez o cantor Lulu Santos comentou que a música evangélica andava mais criativa do que musica secular. Andava, pois parece que a música religiosa conseguiu chegar ao mesmo patamar da musica secular, além do mais, tornou-se tão capitalista quanto à outra.O formato da musica religiosa no Brasil se parece com bonequinhos “mande in China”, é tudo igual. Está cada vez mais insuportável ouvir certas músicas e cantores alcunhados cristãos. Tem muita música religiosa que deveria ser censurada de tão ruim!
O crente no geral tem um preconceito enorme com a música secular. A questão de alguém ouvir música secular nada tem haver com o certo ou errado. Tem haver com achar algo bom ou belo.
A musica secular às vezes nada tem haver com secular o que também pode significar dentre outras coisas pertencente à ordem religiosa. Assim a musica religiosa pode ser chamada também de secular. Nesta confusão de linguagem o tal do secular vem de o termo secularizar que é deixar de pertencer à ordem religiosa aceitando somente os fatos da vida. O problema é o tal do extremismo. Rejeitar qualquer forma de expressão só pelo fato de não pertencer à ordem religiosa é errado. Cada um ouve o que quer e o que gosta.
Quando aceitei a Cristo e fui selado e cheio do Espírito Santo,na igreja Batista Barão da Taquara em 1988, por falta de uma boa orientação da parte dos meus líderes naquela época, queimei coleções inteiras de discos que levei anos para comprar. Em apenas 1 hora a fogueira da inquisição dos vinis destruíram coisas que fizeram parte da formação da minha história. Como se fosse possível apagar o passado. Como disse o filosofo René Descartes: “cogito, ergo sum”. Atitudes extremistas assim são tão erradas e, mais tarde em outra fase da vida, alguma coisa entra em conflito. Porque não se pode simplesmente fazer desaparecer fatos importantes da história de cada um, mesmo que estes fatos não sejam tão bons assim, mas não deixam de ser importantes.
Pergunto se ouvir aqueles discos era pecado? Será que não havia nada de bom ali? Todas aquelas canções, cantores e bandas que eu admirava e desfrutava do prazer em ouvi-los, eram todos eles demoníacos?
O assunto em questão não é o queimar os discos seculares, não é o bem material em si, mesmo que isso seja uma forma de extremismo religioso. A verdade é que já está mais do que na hora de amadurecermos na fé e deixarmos de sermos hipócritas, míopes e preconceituosos.
Se ouvir musica secular fosse pecado também seria assistir filme secular, vestir roupa secular, comer um secular "Big Mac", etc. Aí entra o lance de que vivo no mundo, mas não sou do mundo. (Jo 17.16).
O bom senso passa todas as coisas pelo filtro do discernimento. Faz-nos imitar o exemplo dos bereanos que buscavam as respostas na Palavra. Todas as coisas nos são permitidas por direito, mas nem todas elas nos valem à pena serem feitas. (1 Co 10.23)
Outra questão é espiritualizar as coisas. A igreja da idade média abusava da credulidade das pessoas mistificando tudo para vender a salvação. Da mesma forma, hoje em dia, as igrejas continuam espiritualizando algumas coisas para vender suas indulgências.
Compor ou cantar uma musica é um dom de Deus, não importa se a musica é sacra ou secular. A Bíblia diz que ninguém pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada (Jo 3.27). Tem muita gente boa por aí fazendo musica de qualidade. Deus cedeu gratuitamente o livre arbítrio para usarmos os dons naturais (ou espirituais) para fazer o bem ou o mal.
Watchman Nee escreveu que "Cristo, e não primeiramente aquilo que dizemos a Seu respeito, é o testemunho que levamos em nossa peregrinação."
Suponha que a musica religiosa é certo e a musica secular é errado. Um cantor evangélico que faz musica secular é certo ou errado? Temos como exemplo a dupla de cantores César Menotti e Fabiano que são cristãos e fazem musica sertaneja de raiz. Outro cantor que não é evangélico, mas é católico, e ele faz musica secular é certo ou errado? Responder que é errado não seria preconceito por ele ser católico? Fazer musica é um dom. Vender musica é um trabalho.
O pastor-cantor André Valadão, por exemplo, tem o dom de cantar e escrever belas canções, mas ele vende suas musicas porque precisa ganhar dinheiro, e não há nada de errado nisso. Errado é quem fica mistificando as musicas e idolatrando o André Valadão.
Quando um cantor evangélico diz: “Deus me deu essa canção”, ele também deveria dá-la de graça (Mt 10.8). Se ele recebeu gratuitamente por que ele cobra para apresentar e vender seus CDs? Porque isso é trabalho. O trabalho assim como o dinheiro são coisas iníquas, o que não significa que sejam pecados. A Bíblia diz que aquele que trabalha é merecedor de remuneração financeira. Então quando um cantor religioso cobra 10 mil, 20 mil, 100 mil reais para se apresentar ele está trabalhando. O mesmo faz outro cantor secular. A diferença é que um ganha dinheiro usando o nome de Deus, outro ganha dinheiro com o suor do próprio rosto. Eu, por exemplo, tenho postado minhas músicas (que Deus me deu) no Youtube; quem quiser pode copiar e tocar...de graça!
Ministério e trabalho significam a mesma coisa, é uma tarefa a ser cumprida. Então não tem aquela desculpa de mistificar as coisas trocando os termos com se fizesse alguma diferença. Porém pode se diferenciar o tipo do ministério (trabalho). Aquele que Jesus chamou para o trabalho de pregar o Evangelho foi exigido total desprendimento de qualquer recurso deste mundo. Veja: Mt 10.9; Mc 6.8; Lc 10.4; Lc 22.35.
Infelizmente não é isso que vemos. O ministério da palavra virou um negócio lucrativo para muitos assim como a música religiosa. Graças a Deus por aqueles que em nosso meio não se dobraram ao deus do dinheiro (1Rs 19.18). Isso não significa que aquele que foi chamado para o ministério da palavra não possa receber da igreja algum recurso financeiro. Tem igrejas por aí deixando seus pastores na total miséria e abandono!
Essa coisa de santo e profano é polemico. Gosto das palavras de C. S. Lewis: "Sou um pagão convertido vivendo em meio a puritanos apóstatas."
Certa mulher que fora prostituta testemunhou que Deus falava ao seu coração quando ouvia a musica “O Show Já Terminou” de Roberto Carlos,
“O show já terminou,
Vamos voltar à realidade,
Não precisamos mais
Usar aquela maquiagem...”
O Espírito Santo usou uma musica secular para falar ao coração de uma pessoa.
Outro exemplo são as músicas “Cidadão” do Zé Ramalho e “Filho Adotivo” do Sergio Reis. Suponho que um feixe de luz iluminou um momento de grande emoção, expressando pela própria história de vida dos seus autores. Quem sabe foram inspirados por Deus? Quem vai dizer que não?
Eugene O'Neill escreveu: "Por que tenho medo de dançar, eu que amo a música e o ritmo e a graça e a canção e o riso?"
Por que temos tanto medo do secular, nós que vivemos no mundo apesar de não pertencermos a ele?
Devemos meditar a respeito destas coisas e fazer um exame de consciência; e tudo o que é verdadeiro, honesto, justo, puro, amável, de boa fama; e se há alguma virtude, algum louvor, nisso pensamos e ouvimos! (1 Ts 5.21, Fp 4.8)
Você pode até divergir da minha opinião em relação à música, no entanto concordamos que Jesus Cristo é o caminho, a verdade, e a vida! (Jo 14.6)
Aprendemos com os erros do passado. Hoje somos pessoas melhores, melhor preparadas e mais maduras na fé. É pra frente que a igreja deve prosseguir!
Deus abençoe.
Gilson S.C.