segunda-feira, 21 de maio de 2018

Hicsos e Hebreus no Egito

Durante o Médio Império Egípcio (2000 a 1580 a.C.), o Egito vivia uma disputa política entre o Faraó e a elite religiosa. Por volta do século XVIII a.C. a pressão contra a autoridade do Faraó estabeleceu um grave desacordo, sendo que muitos membros da nobreza, em desafio, permitiram que povos estrangeiros adentrassem o território egípcio, povos que não eram bem vindos, chamados de "vagabundos das areias".




Esses povos eram instalados na região do Delta do Nilo, norte do Egito, para que não tivessem acesso nem contato com a parte rica e civilizada do país, evitando a miscigenação com a população natural. Entre esses povos semitas estariam os filhos de Jacó, os Hebreus e também uma civilização de origem asiática, os Hicsos. Segundo alguns pesquisadores essa chegada se deu devido a uma enorme seca em seu lugar de origem. Podemos então concluir que esses povos se deslocaram até o nordeste da África para fugir da seca, da fome e usufruir das terras e dos mananciais disponíveis.

Enquanto o Egito era tomado por disputas políticas, os Hicsos, que eram adoradores da divindade "Ba'al" desenvolveram a sua economia e sociedade, além de formar um exército muito bem armado, com armas resistentes e cavalos de guerra. Dessa forma, quando iniciaram o processo de dominação contra os egípcios não tiveram dificuldade de vencer as instáveis forças que controlavam a região do Delta do Nilo. 

Após se firmarem politicamente no Egito, os Hicsos decidiram fixar a capital do Baixo Egito na cidade de Avaris, enquanto a dinastia de Faraó mudou sua capital para Tebas, no Alto Egito, para garantir assim o controle da região sul. Essa divisão política permaneceu por quase um século estável, graças ao bom convívio entre os dois governos no Vale do Rio Nilo, mas sofreu um forte abalo por conta de uma rixa aparentemente banal, segundo documentos desse período. Os relatos dizem que muitas dessas brigas aconteciam porque Os Hicsos tentavam legitimar e estender seus poderes, adotando várias das tradições e costumes desenvolvidos pelos egípcios, por outro lado os egípcios não se conformavam com a perda de uma rica e significativa parcela de seus domínios. 
O termo grego Hicsos deriva do egípcio Hik-khoswet, que significa "governantes de países estrangeiros". Por volta de 1580 a.C, no governo do faraó Ahmose I, os conflitos militares contra os hicsos se intensificaram, com o intuito de recuperar a unidade política do antigo Egito, tiveram que superar duas frentes de batalha: uma ao norte comandada pelos hicsos e outra ao sul sob liderança dos núbios, povo que cooperou militarmente em favor dos hicsos. Após a vitória o Novo Império (1580 a 525 a.C) inaugurou uma nova etapa na supremacia egípcia.

Os Hebreus no Egito 

A bíblia nos dá informações escassas sobre a permanência dos hebreus no Egito. Jacó e seus filhos estabeleceram-se na terra de Gessém (no texto hebraico Goshen, no texto dos LXX, Gessém), situada na parte oriental do Delta, região fértil é apta para o pastoreio. Em determinado momento, com o crescimento da população, Gessém tornou se pequena, e os hebreus tiveram que expandir. Preferiram em vez de se estabelecerem em meios hostis egípcios retornar para Canaã, terra que estava ligada a esse por tradições religiosas. Uma vez já tinham voltado para lá, quando José saiu do Egito rumo a Canaã para sepultar Jacó (Gn 5O,7-14). Certamente, depois daquela ocasião, as relações não foram cortadas com a terra das promessas.
O período dos Hicsos ainda é obscuro na história do Egito. É consensual que eles foram um dos povos asiáticos que ocuparam o Delta do Nilo em busca de alimentos naquela época, parecem feito uma aliança cultural e tecnológica com os egípcios. 

Historiadores modernos aceitam a ideia de uma conquista do Egito pelos hicsos. Os vestígios arqueológicos não confirmam nem negam esta conquista militar do Delta do Nilo, e as fontes egípcias contem poucas informações do período que abrange da 14.ª Dinastia a 17.ª Dinastia, por esse motivo acreditam que houve uma desintegração de poder no Egito nesta época.

Outras fontes históricas dão conta de que que os Hicsos, em determinado momento ascenderam ao poder no Egito, tirando dos Hebreus o status de 'povo amigo' e relegando-os à escravidão, pois como pavo imigrante no Egito (assim como os Hicsos) tornaram-se eventualmente seus rivais. Com a ascensão dos Hicsos ao trono Egípcio os Hebreus se tornaram escravos, até culminar com sua libertação sob a liderança de Moisés.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

O que é uma igreja batista ?

A igreja batista nasceu a partir dos movimentos de reforma eclesiástica que agitaram o século 16. Mais especificamente, os batistas descendem da igreja inglesa que, com Henrique VIII, rompeu com o catolicismo romano, dando início à denominada Igreja Anglicana.

Para algumas pessoas que pertenciam à Igreja Anglicana, a reforma de Henrique VIII devia ser mais ampla, indo além de questões institucionais e atingindo áreas de fé e doutrina. Esses grupos, por desejarem um retorno ao Novo Testamento em sua forma mais pura, foram chamados de puritanos.

Entre os puritanos havia os separatistas que, além de se opor a certos aspectos teológicos da Igreja Anglicana, também não aceitavam o controle estatal da igreja, crendo que esta devia ser independente. Esses puritanos foram chamados de separatistas.


Evidentemente, a coroa inglesa não via com bons olhos os movimentos puritanos separatistas e os considerava ilegais. Por isso, muitos desses grupos fugiram da Inglaterra e se fixaram em vários países. Entre eles, em 1609, uma congregação liderada por John Smith (c. 1570-1612), refugiou-se em Amsterdã, na Holanda. Ali, John Smith teve contatos com os anabatistas e com os menonitas, sendo influenciado por esses movimentos no tocante a um retorno completo às Sagradas Escrituras, ao batismo somente de crentes e à rejeição do batismo infantil.


Em 1612, Thomas Helwys (c. 1550-1616) e outros membros da igreja fundada por Smith voltaram à Inglaterra e fundaram, em Londres, a primeira igreja batista. É interessante notar que essa igreja, a princípio, praticava o batismo por efusão, mas já detinha os outros traços distintivos dos batistas - a aceitação da Bíblia como autoridade final em matéria de fé e prática, a salvação pela graça mediante a fé somente, a separação entre a igreja e o Estado e o dever do governo de garantir a liberdade de consciência e de culto.

Os batistas de convicção calvinista, também chamados de batistas particulares, originaram-se em 1633, a partir de um cisma na igreja liderada por Henry Jacob, em Londres. Esse grupo, além de enfatizar as doutrinas reformadas, insistia no batismo dos crentes por imersão e tornou-se o segmento mais influente dentro do movimento batista inglês.

Espalhando-se para as mais diversas regiões do globo, os batistas muito cedo chegaram aos Estados Unidos. De lá veio para o Brasil o casal de missionários William e Anne Bagby. Por esse tempo, já havia batistas americanos em Santa Bárbara e Americana (SP), mas suas igrejas eram voltadas apenas para a colônia estrangeira. O casal Bagby, porém, em 1889, fundou, em Salvador, a primeira igreja batista brasileira. A partir daí os batistas se espalharam por todo o País e, em 1907, foi organizada a Convenção Batista Brasileira.

DEZ TRAÇOS DISTINTIVOS DOS BATISTAS 

1. Adoção da Bíblia como única regra de fé e prática (2Tm 3.16).

2. Ênfase na doutrina da salvação pela fé somente (Ef 2.8-10).

3. Destaque para o ensino do sacerdócio de todos os crentes (1Pe 2.9)

4. Separação entre Igreja e Estado com ênfase na independência da igreja (Mt 22.21).

5. Autonomia de cada igreja local que adota a forma de governo congregacional (Mt 18.17; At 6.1-6).

6. Cooperação entre as igrejas para a expansão do Reino de Deus (1Co 16.1-4).

7. Prática do batismo por imersão ministrado somente aos crentes (At 8.36-39).

8. Rejeição do batismo infantil (Mt 28.19).

9. Consideração do batismo e da Ceia do Senhor como símbolos de verdades espirituais e não como sacramentos (Rm 6.4; 1Co 11.24-25).

10. Rejeição de doutrinas pentecostais especialmente no tocante ao batismo do Espírito Santo acompanhado pelo dom de línguas (1Co 12.13,30).  

RESSALVAS 

1. Os batistas não são os seguidores de João Batista. Muitos identificam os batistas com os seguidores João Batista, mas esse entendimento é fruto apenas da intuição popular que percebe a igualdade dos nomes e automaticamente passa a crer que há qualquer ligação entre ambos. Esse modo de pensar, porém não tem qualquer amparo, mesmo porque João Batista e seus discípulos nunca fundaram qualquer igreja ou movimento religioso. O papel de João e seus discípulos se limitou a preparar o caminho para a vinda do Messias que é Jesus (Mt 3.1-3). Depois disso João saiu de cena (Jo 3.30). 

2. Os batistas não adotam a Teologia da Prosperidade. O ensino de que os crentes de fé terão prosperidade material e livramento de doenças, ensino este proposto pela chamada Teologia da Prosperidade não é ensinado nas igrejas batistas genuínas por não ter amparo bíblico. Na Palavra de Deus aprendemos que dificuldades físicas e financeiras advêm tanto a crentes como a incrédulos (Mt 19.23; Lc 16.22-23; Gl 4.13; Fl 2.25-27; 2Tm 4.20; Tg 2.5). 

3. Os batistas não têm comunhão com seitas paraprotestantes. Seitas paraprotestantes são aquelas cujos fundadores estiveram originalmente ligados de alguma forma a igrejas protestantes, mas romperam com elas por professarem doutrinas estranhas ao cristianismo histórico, fundando em seguida o seu próprio movimento. Todos esses movimentos, à luz da Bíblia, não podem ser considerados cristãos. Daí ser impossível a comunhão entre eles e as igrejas batistas que preservam seus princípios fundamentais (2Jo 10). 

4. Os batistas não praticam rituais comuns em outras igrejas ditas evangélicas. Rituais de quebra de maldição, supostas orações de poder, cultos de libertação espiritual, unção de objetos e coisas do gênero não são práticas adotadas pelos batistas ou por qualquer igreja bíblica. Na verdade, essas superstições servem apenas para desfigurar o nome de cristão e desviar o coração das pessoas da verdadeira mensagem do evangelho, fazendo-as crer em fábulas (Mt 7.21-23; 2Tm 4.3-4; 2Pe 2.1-3).

terça-feira, 24 de abril de 2018

O Pentecostalismo e seus danos à Igreja cristã

Os Três Perigos

Ao longo de sua história, a igreja cristã tem enfrentado três graves perigos: o paganismo, o papismo e o pentecostalismo.

O paganismo ameaçou a igreja logo nos primeiros anos de sua existência, especialmente por meio de um misto de religiões, filosofias e fábulas que mais tarde ficou conhecido como gnosticismo. Esse modelo exercia forte atração sobre os cristãos menos preparados porque, além de oferecer experiências místicas, como visões e coisas do tipo (Cl 2.18), também impunha aos seus seguidores normas de conduta que pareciam piedosas — regrinhas como "não pode isso", "não pode aquilo" (Cl 2.20-23). O maior atrativo do gnosticismo, porém, estava na alegação de que seus adeptos formavam uma elite espiritual detentora de um grau de espiritualidade e conhecimento (gnosis) que outras pessoas eram incapazes de possuir

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O papismo, por sua vez, desenvolveu-se em decorrência de processos muito mais longos e complexos, iniciados já no século 2, e que culminaram no surgimento de uma espécie de príncipe eclesiástico com autoridade universal, supostamente dotado de infinitos poderes temporais e espirituais — uma espécie de deus, reconhecido, aliás, como infalível!

Por causa do papismo, a igreja medieval ficou muitas vezes nas mãos de homens inescrupulosos, imorais e corruptos que, em nome de Cristo e em benefício próprio, cometeram atrocidades como as guerras das Cruzadas, os crimes da Inquisição e a exploração impiedosa do povo por meio da venda de relíquias e de indulgências. O caos e a vergonha a que o papismo lançou a igreja deram ensejo à Reforma Protestante do século 16.

O terceiro perigo, o pentecostalismo, é de todos o mais recente e também o mais danoso, posto que abriga elementos dos dois primeiros e, conforme será demonstrado, trouxe prejuízos para o cristianismo que nem mesmo os piores inimigos da fé foram capazes de causar nesses 2 mil anos de história eclesiástica.

O surgimento do movimento pentecostal geralmente é datado de 1906, ano em que William Joseph Seymour, um pregador afro-americano, iniciou reuniões num barracão na Rua Azuza, número 312, em Los Angeles, EUA. Nessas reuniões, a ênfase era a busca do batismo com o Espírito Santo, o que Seymour cria ser uma experiência mística pós-conversão, acompanhada pelo falar em línguas.

Ora, a Bíblia ensina que o batismo do Espírito Santo é dado a todos os crentes, sem que eles precisem se esforçar para obtê-lo (1Co 12.13; Gl 3.2). Também ensina que isso ocorre no momento da conversão (Ef 1.13), sem nenhuma necessidade de ser evidenciado pelo dom de línguas, já que, na Igreja Primitiva, esse dom era dado somente a alguns (1Co 12.30).

Contudo, os seguidores de Seymour criam que o batismo do Espírito Santo era uma espécie de "segunda bênção" (a primeira bênção seria a conversão) dada por Deus somente a quem a buscasse com orações, jejuns, clamores, lágrimas e vigílias. Por isso, testemunhas oculares relataram que, na Rua Azuza, as pessoas passavam dias e noites gritando, chorando, gemendo, uivando, pulando, girando e se contorcendo, enquanto clamavam pela "bênção". Já os que eram "batizados" balbuciavam o que criam ser línguas estranhas e, em êxtase, caíam no chão onde ficavam rolando ou se sacudindo, numa manifestação frenética de loucura total. Outros, ainda, desmaiavam e ficavam deitados por horas a fio, inertes como se estivessem mortos.

Tudo isso, pensavam, era necessário e valia a pena, pois o batismo do Espírito Santo, uma vez recebido, elevaria o crente a um novo e mais rico patamar espiritual, tornando-o participante de uma elite de homens santos e fazendo-o desfrutar de uma vida repleta de experiências poderosas e arrebatadoras com Deus.

Foi dito aqui que o primeiro grande perigo que ameaçou a igreja de Cristo foi o paganismo manifesto em doutrinas gnósticas. Pois bem... O pentecostalismo demonstrou ser um dos maiores danos que já sobrevieram à igreja porque, com sua ênfase numa doutrina jamais ensinada nas Escrituras, trouxe de volta para o cristianismo precisamente aquelas velhas noções pagãs, apegando-se ao êxtase, ao frenesi espiritual e, especialmente, ao principal conceito gnóstico da existência de uma elite espiritual que se situa acima dos crentes comuns.

Então, como ocorreu com o gnosticismo nos séculos 1 e 2, a possibilidade de provar emoções novas e de fazer parte de uma elite espiritual fez com que o pentecostalismo atraísse uma imensa massa de pessoas ignorantes, ávidas por experiências místicas e sedentas por conquistar o reconhecimento e a admiração dos seus correligionários.

Conforme dito anteriormente, a segunda maior ameaça sofrida pela igreja ao longo dos séculos foi o papismo. Ora, o pentecostalismo também não deixou de fora os principais elementos desse mal. Com efeito, além de trazer novamente para a igreja de Cristo o velho paganismo combatido pelos pais apostólicos do século 2, o movimento pentecostal trouxe também para a igreja evangélica o velho papismo combatido pelos reformadores do século 16. A diferença é que o papismo pentecostal é um papismo piorado.
De fato, se no romanismo foi acolhida a figura de um papa apenas, no movimento pentecostal ocorreu a diabólica proliferação de um exército de pequenos papas locais, todos reivindicando autoridade divina e infalibilidade absoluta sob os títulos de bispo, apóstolo, profeta ou patriarca.

Com incrível ousadia, todas essas figuras alegam que Deus lhes fala diretamente e, à semelhança dos pontífices medievais, não aceitam que suas opiniões ou condutas sejam questionadas por ninguém e em nenhum grau. Também à semelhança dos papas renascentistas, esses facínoras exploram a boa-fé do povo e juntam tesouros para si, vendendo quinquilharias que dizem ser santas e dotadas de poder. Na verdade, isso acontece hoje numa escala tão grande que é fácil concluir que os papas medievais, em termos de engano e estelionato, teriam muito que aprender com os pequenos papas da atualidade que reinam soberanos nas igrejas pentecostais.